Rolim de Moura,

Está mesmo na hora de as academias reabrirem? Médicos afirmam que não
Conheça alguns dos protocolos que deverão ser seguidos e entenda a opinião dos especialistas.

Publicado 04/07/2020
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As academias de ginástica abriram nesta quinta-feira, 2 de julho, no Rio de Janeiro com filas de clientes querendo malhar e outras de clientes querendo cancelar seus planos. Na maior parte do resto do Brasil, elas também já estão em funcionamento, mesmo com os altos números de contágio e morte por Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (SARS-COV-2), no país.

O EU Atleta ouviu a consultora internacional no segmento de academias Luiza Castanho, a médica infectologista Maysa Yano, da Santa Casa de São Paulo, e o médico Luis Fernando Correia, colunista do site e especialista em medicina esportiva, que acompanhou a delegação brasileira nos Jogos da Lusofonia, em Macau, em 2006, e nas Olimpíadas de Pequim, na China, em 2008, além de ter sido o coordenador médico geral na Copa das Confederações FIFA de 2013 e diretor-médico geral da Copa do Mundo de 2014, realizadas no Brasil.

E para os dois médicos, não há dúvida: academias deveriam estar no fim da fila entre empreendimentos a serem abertos nesse momento de pandemia.

- Antes, a gente chegava a pensar: a última coisa que vai abrir é academia. Afinal, é ambiente fechado, não tem como evitar certa aglomeração, há compartilhamento de aparelhos. Nenhuma limpeza vai dar conta a longo prazo. É o último lugar que deveria abrir, tem mão, tem perna, tem braço, respiração, transpiração. Na nossa avaliação, uma academia tem ainda maior potencial de contágio do que shopping ou restaurante. Há coisas essenciais, essa não é uma delas - avalia Maysa, para quem as medidas tomadas para reduzir o contágio dificilmente serão suficientes.

O médico Luis Fernando Correia, comentarista de saúde em rádio, TV e internet e diretor da Policlínica da Vila Pan-Americana, no Pan do Rio, em 2007, concorda que o nível de exposição ao vírus, numa academia, é muito alto.

- O nome do jogo que temos que fazer no momento é "cálculo de exposição ao risco". Para cada movimento, temos que fazer três perguntas e uma conta: "preciso sair para ir a esse lugar? Onde vou é essencial? Quem vou encontrar lá?" Academia não passa na primeira pergunta, ninguém precisa ir a uma academia. Faça exercício em casa, faça exercício na rua, mas não faça exercício em um local fechado com aparelhos compartilhados.

É correr risco à toa. Na lista das prioridades, é a última, junto com salão de beleza. Até que haja vacina ou imunidade de rebanho, o que exige cerca de 70 % da população imunizada, a pessoa deve reduzir as chances de contágio saindo apenas para o essencial. Academia é para melhorar a saúde, mas no momento ela é um risco para a saúde - afirma Luis, lembrando que sedentarismo também mata. - Ficar em casa não precisa ser sinônimo de passar o dia sentado no sofá.

Protocolos

Luiza Castanho, por outro lado, lembra que para continuar aberta, uma academia precisa seguir protocolos das prefeituras e do manual da própria Associação Brasileira de Academias. Esses protocolos exigirão a contratação de mais funcionários para a higienização dos ambientes e aparelhos e a compra de mais material de limpeza para seguir os seguintes passos, entre outros:

  • Agendamento obrigatório de horário de malhação;
  • Redução do número de clientes para cada horário;
  • Distância de 6,25 metros quadrados por pessoa;
  • Luta e dança sem contato físico e crossfit com redução de equipamentos;
  • Sauna, spa e espaço para crianças proibidos;
  • Piscinas somente para aulas de natação;
  • Restrição para idosos e doentes crônicos;
  • Durante o horário de funcionamento da academia, fechar cada área duas a três vezes ao dia, por pelo menos 30 minutos, para limpeza geral e desinfecção dos ambientes;
  • Termômetro eletrônico à distância para medir as temperaturas de todos antes de entrarem;
  • Dispositivo para limpeza dos sapatos na entrada da academia;
  • Os clientes devem levar suas próprias garrafinhas de água e suas próprias toalhas;
  • Uso de máscaras pelos clientes e professores;
  • Fazer a troca dos filtros do ar condicionado no mínimo uma vez por mês;
  • Garantir a qualidade da água nas piscinas com eletroporação e filtros químicos em alta concentração;
  • Colocação de recipientes de álcool em gel em todos os recintos;
  • Limpeza de todos os aparelhos da academia e bordas da piscina a cada uso.
  • - Os protocolos são muito seguros. Se forem cumpridos, minha percepção é de que são suficientes - analisa Luiza.

No entanto, a consultora acredita que pode sim haver uma mudança nos padrões das academias. Redes mais baratas podem ter dificuldade de se manter com menos alunos por hora e maior gasto com limpeza.

- A gente sabe que há empresas que não têm condições de seguir os protocolos porque os custos aumentam. Vão ficar as que têm, porque haverá fiscalização. Talvez a mudança seja da academia com 3 mil alunos pagando R$ 100 para uma com mil alunos pagando R$ 300. Vejo um crescimento da academia de nicho e do personal trainer - avalia.

Para os médicos, mesmo em academias pequenas, esses protocolos não eliminarão os riscos. Alguns são, inclusive, considerados quase cosméticos. Maysa lembra do tapete descontaminante.

- Sapato é o menor dos problemas com o coronavírus. A questão são as gotículas. E mesmo de máscara, é muito difícil que não haja contaminação de superfícies compartilhadas, embora as máscaras realmente reduzam o risco - comenta a infectologista.

O termômetro na entrada é outra medida de eficácia reduzida.

- Quando o sujeito infectado por coronavírus apresenta febre, ele já estava contaminante desde quatro ou cinco dias antes. São quatro ou cinco dias, pelo menos, sem sintomas, em que ele foi à academia, passou pelo termômetro e pode ter infectado várias pessoas - explica Luis, que critica a decisão de abrir precocemente as academias. - Quando você libera esse tipo de atividade não essencial, você passa a mensagem, para a população, de que está tudo bem. E não está.

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Fonte: GloboEsporte