Rolim de Moura,

Necropolitica: O silencioso processo de higienização humana
Necropolítica é o uso do poder social e político para ditar como algumas pessoas podem viver e como algumas devem morrer.

Publicado 06/12/2019
Atualizado 06/12/2019
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Foto: Reprodução/Angeli/site racismo ambiental

Necropolítica é o uso do poder social e político para ditar como algumas pessoas podem viver e como algumas devem morrer. Diferente do que aconteceu nos campos de concentração nazistas, quando milhares de pessoas eram mortas ao mesmo tempo, é possível perceber, nos dias atuais, sinais de um processo lento de higienização humana, onde pessoas consideradas improdutivas ou inservíveis ao capitalismo são  relegadas a segundo plano, condenadas a morte em função de decisões políticas.
    O filósofo Michel Foucault dizia, em 1988, que existe uma produção calculada e otimizada da vida e uma das suas dimensões mais visíveis refere-se a destruição material de estratos sociais  julgados como supérfluos, como seria o caso de idosos, doentes, deficientes físicos,  deliquentes e, porque não, negros e pessoas em situação de miséria absoluta.
    Não se trata de assassinato direto, como nas câmaras de gás do nazismo. Trata-se, em tempos modernos, do assassinato indireto, multiplicando-se o risco de morte para alguns. Através da necropolitica extermina-se, de forma silenciosa e discreta, milhares de pessoas.
    Um sistema de saúde pública cada vez mais inoperante e com cortes seqüentes de recursos mata milhares de doentes que esperam na tal “regulação” por tratamento médico. O excludente de ilicitude abre espaço para que policiais de má índole matem sem correrem o risco de serem julgados. O abandono de moradores das favelas e falta de investimento em saneamento básico cria ambiente favorável para a proliferação de doenças. A suspensão de fornecimento de medicamentos de alto custo é mais uma maneira de matar com discrição. A sociedade, sempre desatenta, não percebe. A elevação dos índices de homicídio entre a população negra e favelada, somados à precária infraestrutura urbana, podem ser considerados como verdadeiros mecanismos de controle e gestão de vidas. 
O extermínio gerado pela necropolitica não acontece só através da violência letal, mas também pela precarização das condições de vida, como a exposição dos jovens a situações de pobreza monetária, relações de emprego precárias, desemprego, risco social e a falta de alcance das políticas de transferência de renda.
A flexibilização para acesso a armas de fogo e relaxamento das regras de trânsito é outro fator agravante, que configura de maneira clara a implantação da necropolítica, fator que pode ser atestado em qualquer pesquisa sobre o aumento da mortalidade entre a população de extrema vulnerabilidade social e em situação de pobreza absoluta. Não se trata de algo novo, já que esse método de gestão de vida vem desde a antiguidade e se implanta em todos os cantos do mundo, sempre de maneira cruel e, repetimos, discreta.
. O Brasil de hoje está, sem dúvida, incluído nesse sistema de necropolítica e para constatar isso basta um olhar atento sobre as decisões tomadas nos últimos meses. A discussão sobre o tema é necessária e urgente. Tomar consciência disto não é meramente denunciar, mas se comprometer com iniciativas que busquem a correção desta realidade.

Por Benê Barbosa

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